O ano de 2022 foi muito marcante para nós (Arthur e Ramon). Foi quando nasceu As Chaves da Torre e, consequentemente, a Editora Caleidoscópio. O que talvez vocês não saibam é que uma boa parcela de culpa por isso ter acontecido foi de um evento chamado Diversão Offline. Especificamente das pessoas que frequentam esse evento.
O DOFF é o maior evento de jogos analógicos da América Latina, o que envolve boardgames e RPG. No caso a maior parte do evento e do público são de boardgame, mas hoje ele é o maior evento para o nosso nicho e onde os produtores independentes e editoras se encontram de forma organizada pessoalmente.
No ano passado nós fomos ao DOFF. Carregamos conosco uma dezena de cópias do jogo-rápido (o mesmo que você pode baixar gratuitamente na loja), a versão daquele momento dos Baralhos de Temas e Chaves, umas camisas com a arte do jogo e uma boa carga de coragem e cara de pau. Apresentamos o nosso protótipo para a comunidade e o feedback foi muito positivo, tanto do público quanto de pessoas que eu admirava como produtores de RPG (e passei a admirar como pessoas).
Aqui temos que agradecer muita gente, mas não vou me ater a nomear ninguém para não deixar ninguém de fora, mas fomos abraçados por gente que é relevante para o nicho. Se tornaram embaixadores que divulgaram o jogo, se tornaram leitores beta, deram pitacos de gamedesign e críticas construtivas. A partir dali sentimos a segurança para prosseguir, veio o financiamento coletivo, e o resto você já sabe: batemos a meta base em um dia e todas as metas estendidas até o fim da campanha.
Mas o que interessa é 2023, né? Então sem mais devaneios vamos falar do que aconteceu esse ano!
UMA INDIE ALLEY MOVIMENTADA E LOTADA
No dia anterior (sexta-feira) havíamos levado o material e montado a estrutura da mesa. Encontramos algumas outras editoras independentes e fomos bem recebidos por todos. Encontramos pessoas que só conhecíamos pela internet e reencontramos alguns que haviam nos apoiado em 2022. Foi sensacional!
Mas a porrada mesmo veio no sábado, chegamos duas horas mais cedo para terminar de montar e ocupar os nossos dois metros de mesa com tudo que havíamos levado, de produtos à decoração. Antes de terminarmos as portas foram abertas para a imprensa. Naquele momento já fomos alvejados!
Algumas pessoas foram imediatamente até nós. Pessoas que haviam acompanhado nossa trajetória pelas redes sociais, pessoas que foram jurados do Goblin de Ouro e descobriram ali quem éramos, amigos de canais e podcasts. Nosso evento começou antes mesmo das portas abrirem.
Às 10h00m abriram-se os portões, a fila gigantesca do público veio em profusão e tudo se repetiu. Porém, agora não eram mais amigos prestigiando, eram dezenas de pessoas que iam e vinham, queriam conhecer o jogo, jogar as mesas que estavam agendadas, levar o jogo pra casa ou simplesmente nos conhecer pessoalmente depois de participar da campanha.
Muita gente que nos viu com protótipo no ano anterior, rostos conhecidos, retornou! Muita gente que não nos conhecia, conheceu. Outros tantos que já acompanhávamos de perfis, canais e podcasts vieram ter conosco. Foi uma festa, movimentada e alegre!
Fomos validados enquanto uma editora independente de jogos de RPG, pelo público e pelos produtores de conteúdo, mas ainda haviam surpresas pela frente. Ao longo do dia ficamos abarrotados de gente a todo momento, até o fim!
A PRESENÇA ILUSTRE DE KENNETH HITE
Antes de viajarmos um amigo (playtester do jogo) pediu para que levássemos uma cópia de um jogo escrito pelo Kenneth Hite (responsável por jogos como Night's Black Agents e Vampiro: a máscara 5ª edição), a atração internacional anunciada para a linha de RPG do evento, para ser autografado. Respondi que não daria pra fazer isso. Imaginava que não teria tempo de enfrentar uma fila com fãs para colher um autógrafo - afinal de contas tinha 2 metros da Indie Alley pra tomar conta!
Mas confesso que antes do evento me peguei pensando "Como eu gostaria de ter um momento a sós com o K. Hite e poder contar pra ele qualquer coisa sobre game design e As Chaves da Torre!". Um pensamento fantasioso mesmo, sabe? Daqueles até meio platônicos.
Pois bem, ainda no sábado, movimento a mil, eu estava explicando sobre o jogo para um casal quando o Ramon bate forte no meu ombro. Eu assustado olho pra ele e pergunto "O que aconteceu, cara?" ele aponta pra frente e diz "Fala com ele, bicho!". Ele era o Kenneth Hite, em pé na frente do estande, sorrindo pra mim.
Trocamos de posição, eu e Ramon, e passei a desenferrujar o inglês que eu não falava desde sabe-se lá a última vez que esbarrei com um gringo. Eu só conseguia tietar, dizer o quanto gostava dos jogos dele e o tempo que já acompanhava a sua carreira, como achava genial a proposta do NBA e até como Rastros de Cthulhu me fez repensar alguns aspectos de game design.
Quando ele já não aguentava mais ser elogiado ele soltou "Tudo bem, mas me faz um pitch de um minuto do seu jogo. Eu tô olhando para ele aqui e só consigo pensar em como essa capa é linda!"
Expliquei a proposta do jogo, o Mundo Esquecido e como a Torre manipulava memórias. Ele pediu mais. Expliquei a mecânica de narrativa compartilhada e como as cartas funcionavam no jogo. Ele pediu mais! Expliquei como eram os dados coloridos e a contação de história pós-rolagem de dados.
Então ele disse: Eu queria saber ler português só para conseguir ler o livro de vocês! Ali eu derreti, não tinha mais chão. Ele levou um livro para casa, tirou fotos conosco e depois soltou mais uma pérola enquanto folheava o livro. Se referindo a gamedesigner, disse, "Nós somos muito esforçados, apenas esforçados, mas ele." apontando para o Ramon "Ele faz mágica!". Em seguida seguiu para o próximo metro quadrado da Alley e eu não lembro de mais nada que aconteceu nos minutos seguintes.
MESAS DE JOGO E A RECEPÇÃO DO PÚBLICO
Antes do evento convidamos duas pessoas que estiveram sempre do nosso lado desde os primeiros playtestes. Amigos que conhecemos em comunidades de jogo online: Ícaro Agostino e Rafael Padrão. Combinamos de cada um narrar uma ou duas mesas por dia alternadamente, para que pudessem ainda aproveitar o evento.
Os dois se organizaram e nos passaram os horários das mesas, divulgamos e esperamos que os jogadores aparecessem. E o que aconteceu? No sábado no lugar de três mesas precisamos abrir seis! Foram tantos os jogadores interessados que nossos narradores precisaram abrir mesas ao mesmo tempo! E eles não se negaram, abraçaram a ideia e até aplausos rolaram no final de uma das mesas.
Ícaro e Rafa, muito obrigado por sempre estarem do nosso lado e por serem pessoas tão prestativas! Não deixem a Torre mudar isso.
No domingo foi a mesma coisa. Mesas lotadas, mesas precisando ser aberta de última hora com mais pessoas do que cabiam para jogar em uma só. Estande movimentado e lotado, mas mesmo com tudo isso ainda havia mais por vir!
O GOBLIN DE OURO 2023
A última coisa que acontece no Diversão Offline foi premiação Goblin de Ouro 2023, prêmio de maior peso para o RPG no Brasil e que premia produtos e produtores de conteúdo. Nos 45 do segundo tempo, 18h de domingo (os estandes começam a desmontar às 19h).
E lá fomos nós, inscritos em cinco categorias. Sem saber nem se éramos finalistas em nada. Estande ficou por conta dos parceiros (que ajudaram muito). Acabamos finalistas em todas as categorias inscritas, sendo vencedores em uma delas!
As Chaves da Torre agora é um jogo de RPG premiado nacionalmente! Consagrado como o Melhor Cenário do ano! O nosso Mundo Esquecido, apresentado empolgantemente por habitantes do Oblívio criando um clima que, junto com artes icônicas, proporciona uma construção de mundo única, imersiva e original! Nessa categoria ao nosso lado estavam Arkhi (Buró Brasil) e Herdeiros dos Antigos (Editora CHA).
Na hora que foi anunciada nossa premiação eu tava tão desnorteado que até esqueci de subir ao palco. Cheguei atrasado com o Ramon lá tirando foto. Não preciso nem dizer que as palavras que eu tanto queria dizer não vieram na hora do discurso - só conseguia agradecer!
Em Melhor Coesão de Regras, concorremos com Lições (Avec Editora) e Infaernum (Campfire Estúdio), o primeiro foi o vencedor. Mas nos sentimos felizes por ter apresentado o Sistema de Chaves com dois baralhos customizados como uma ferramenta universal de narrativa compartilhada, além do Sistema de Conflitos, narrativista, objetivo, mas profundo - baseado em pilhas de dados coloridos, na qual cada cor importa, e os jurados o considerarem digno de um Top 3 nacional!
Em Melhor Arte, a técnica e estilo das ilustrações e diagramação de As Chaves da Torre são um espetáculo à parte, e também são a identidade do jogo. Mas quem levou foram as artes maravilhosas do Infaernum. Ramon já tinha até cantado a pedra que esse ano era deles, e foi bem merecido. Nessa categoria também entrou como finalista A Lenda de Ghanor (Jambô).
Até mesmo o Inferno Verde, escrita por Marco Poli, a aventura que fecha o livro com chave de ouro, também foi finalista como Melhor Aventura, ao lado da premiada Fim dos Tempos (Jambô) e de A Hora da Aventura (Editora Retropunk).
Coroando todo o prestígio, o livro foi indicado também como Melhor Livro Básico. Concorrendo a tantas outras categorias, e com um valor de produção alto, as 272 páginas coloridas de As Chaves da Torre trazem tudo que você precisa para jogar: cenário, regras, aventuras, inspiração e mais. Mas o título ficou com Lições, o mesmo que levou regras, e como finalista ao nosso lado os parceiros da Campfire com Infaernum.
Fim de prêmio, saímos às pressa que mau deu pra comemorar. Evento acabado, estandes sendo desmontados às pressas, encaixotamos tudo. A Alley já tava sendo levada, enquanto a gente fechava mala com camiseta e o restinho que sobrou de produto. Apareceu gente querendo levar o jogo de última hora.
E O FUTURO?
Neste exato momento está em financiamento coletivo o Dossiê das Singularidades, que vem aí para expandir o Melhor Cenário de RPG do Brasil em 2023!
Com um preço acessível e trazendo diversos cenários prontos e antagonistas do Mundo Esquecido, este financiamento coletivo de suplemento, também tem apoios para adquirir o premiado livro base.
Acesse em www.catarse.me/dossie.
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