Oies! Meu nome é Tália e eu sou a autora de Ma Bu: um jogo de kung fu e pirações vindo pela Editora Caleidoscópio!
Vou continuar falando mais um pouquinho sobre o projeto, porque gente como você precisa de algo novo pra ler no blog, mas como eu sei que um montão de gente já tá careca de me ouvir falar sobre o que é Ma Bu, que tal elaborarmos um pouquinho na teoria de design do projeto?
E se cê não sabe o que é Ma Bu, tem um post anterior aqui no blog da editora, tem a página oficial do twitter @MaBuRPG e tem também o um vídeo no meu canal pessoal que vou deixar aqui embaixo.
Ao fim da primeira campanha de testes, a gente passou um bom tempo debatendo as estruturas narrativas do jogo, e como ele é baseado em Ação e Reação, ou seja, no vai e volta dramático que propele a história pra frente, numa escala maior que a porradaria. O jogo tem o que a gente chama de Fios, uma série de afirmações espalhadas pelas fichas individuais e compartilhadas da mesa, que vão tecendo as tramas que a Narradora usa pra costurar os ambientes da ficção. Narrando Ma Bu você usará um prep muito mais basal do que os calhamaços lineares que as autointituladas mesas cinemáticas vem a preferir, pois o jogo se interessa muito mais em ameaças voláteis que contrapõem cada avanço do grupo do que uma imensa ferrovia narrativa.
E por mais que o bate papo e as setpieces de suspense sirvam pra estruturar essa peça, é no calor da troca de soco que a gente consegue desconstruir um dos aspectos mais importantes da filosofia que fiz questão de reforçar durante todo o processo de desenvolvimento: Ma Bu é explosivo.
Um dos maiores "desequalizadores" de poder dentro das situações problema é o que o jogo chama de Fervor, uma mecânica de dados explosivos onde cada sucesso crítico — no nosso caso, um 10 no D10, seja dos jogadores ou da narradora — adiciona mais um num montante que pode ser usado a qualquer momento pra colocar mais e mais dados na sua rolagem. Na prática, isso reflete exatamente como o nome deixa a entender; conforme o pau vai comendo e as tensões aumentando, os jogadores vão ficando cada vez mais inclinados a gastarem o montante desenfreadamente, na esperança de que uma porrada de dados garanta seu sucesso ou faça aquele ataque crucial pulverizar o alvo.
E quando o trem atinge esse ponto de ebulição, a mesa (e por consequência seus personagens), assumem uma postura condizente com a tensão da cena por livre e espontânea necessidade. Sim, é claro que o jogador enfadonho que reclama de combate mas aceitou jogar o sistema de porradaria vai bater o pé e resmungar, mas num grupo imerso eu consegui notar os frutos desse lero lero todo, onde até aquele cara mais retraído e sem jeito pra ação tomou as rédeas de cada turno e saiu satisfeito com seu protagonismo explosivo.
No final das contas, eu to é explicando trocentas vezes que em Ma Bu, independente da cadeira que você puxar na mesa, o jogo irá se alimentar da sua capacidade de jogar merda na parede e ver o que gruda. O tempo inteiro, seu maior desafio será inventar um jeito novo de bater, algo pra botar na cena ou como juntar esse fio do BG de alguém no plot atual, seja com desculpas narrativas ou através da trama mecânica que sempre vai te chutar na direção do desespero desenfreado.
Não adianta resistir, — e se não é seu tipo de jogo, eu entendo perfeitamente, não vou ficar chateada mas — as histórias dos Cães mais que frequentemente vão acabar em desgraça atrás de desgraça. E isso é do caralho.
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