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Foto do escritorTália Utsch

Onde Sair no Soco: OS Distritos de Ma Bu

Oies! Meu nome é Tália, a autora de Ma Bu que veio falar um pouquinho sobre o cenário do jogo.


Pra evitar repetir o básico, eu vou presumir que você já leu, pelo menos, o primeiro artigo sobre o jogo bem aqui, onde eu introduzo o básico das mecânicas e do nosso tema de hoje, o protagonista de Ma Bu, O Porto.


Um mexido confuso de Belo Horizonte e Hong Kong, O Porto é uma megalópole costeira tão grande a ponto de evocar as cidades-estado helênicas, um colosso urbano inerte, congelado num tempo disforme e irrefreável por natureza. O Porto é grande a ponto de não importar muito bem onde ele fica, quando ele nasceu ou sequer seu nome real, porque “O Porto” é tudo que sobrou da alcunha grandiosa que acompanhava essa ode à modernidade.



Partido em quatro fatias estranhas (mas longe de exóticas), essa cidade é um bicho completamente diferente dependendo de onde você se enfiar:


Pontâncora ou Ponta é o distrito dos morros, do povão guerreiro e da farra mais zoneada da cidade. Cobrindo dum trecho de costa alta, onde o mar bate em parede de pedra, até o matagal montanhístico já fundo no continente, esse puhadão aglomerado se destrincha em ruelas, becos, escadarias e muquifos infinitos, adornados em muros pintados de vibrante e fiações gateadas inabaláveis. 


Uns chamam de favela, dizem que é uma putaiada suja e desordeira manchando a silhueta da cidade, mas pra muitos a Ponta é o único lugar onde cê consegue ser você mesmo. Seja no forró de quarta, naquele pico dos skatistas ou na calçada trocando ideia, o morro tá pouco se fodendo pra minuciosidade industrial do resto d’O Porto.


O Central é… Bem, o distrito central da cidade. É onde os prédios mais altos, as praias mais bonitas, os restaurantes mais caros e as boutiques mais nojentas ficam — onde O Alto Planalto, o parque administrativo da cidade, reside vigilante.


Os obeliscos do capital e suas vidraças anônimas, a Gendarma a cavalo e a madame a chofer, os parques verdejantes e o bonde abundando de gravata sem brilho no olho; Qualquer problema no Central é sempre coisa grande, envolvendo gente do carpete de veludo, das unhas diamantadas e da fitada desumana. Espere invadir hotéis com dúzias de andares, boates reservadas pela corte do chanceler e ser abominado por cada passo - porque como Cão você serve e aqui não pertence.


A Costa Baixa, como o nome diz, pega um naco da fachada marinha da cidade, onde a praia não é bonita pra Central e o recife não é cruel igual na Ponta. Estendendo tentáculos de concreto e fio tenso até ilhotas subjugadas, esse distrito é o único que não se limita a massa continental, deportando seus polos mais malquistos pra longe — tirando de vista os peões.


Por essas e outras, a Costa é alienada, presa em maresia e docas muito mais velhas que o primeiro tijolo estrada acima, o coração industrial d’O Porto relegado aos operários mal-encarados de galochas imundas. O comércio come solto, o contrabando escoa de barco em armazém e o trânsito nunca para; os galpões fedem a peixe, os peixes à fumaça e as ruas aos dois. É difícil alguém ter algum motivo bom pra ir pra Costa, e mais ainda ter as caras de sair de lá. 


Por último, e tirada como menos importante, a Náu é onde você nada de braçada em placas luminosas e camelôs berrando, vê na mesma galeria a oficina dum torneiro, um veterinário e o melhor advogado do bairro; arruma problema com os moleques batendo cesta na quadra de concreto e os tiozões putos com o último Home-Run do Ursa. Um distrito imenso, de superfície (geográfica e narrativa) chata, onde o bonde larga os paletós escritorados, que o picho incomoda e que o botequim tem máquina de jogo onerosa.


É na Náu que cê acha os condomínios pálidos pagos pelo governo e os piores ringues de prostituição, o cartório mais congestionado e o massacre mais sangrento dos últimos cinquenta anos, o estacionamento mais caro, a praça mais vazia, e o museu mais maçante, o cartel mais viçoso, a droga mais presente e o milico do cassetete mais pesado.


O Porto tá longe de ser um lugar maneiro: o crime é rito e a notícia é mentirosa, rotina é privilégio e estabilidade é iguaria. Mas é isso que faz dele um cenário brutal pro que o jogo quer, uma loucura urbana e anacrônica, que te empurra o tempo todo pro fio da navalha. 


Eu sequer toquei nas Facções que conduzem essa bagunça toda, a tecnologia muquirana que só complica o dia a dia ou os costumes toscos que montam a cultura desse lugarzinho esquisito que a gente chama de casa. Esse cenário tá longe de ser uma ambientação complexa, se não um pouquinho dramática demais pro próprio bem. 


Mas não tem o que fazer, isso é Ma Bu e esse é O Porto.





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